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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma possível história do surgimento do RPG


      Como toda tentativa de descrever a história de alguma coisa, esta aqui será limitada e incompleta - mas se ela for informativa, terá interpretado bem o seu papel (o que, certamente, renderá pontos extras de experiência).

 Para apoiar essa tentativa vou usar diversas fontes, mas o material de que mais tirarei referências é o texto do Steve Darlington, que pode ser encontrado nesta página.
      Na tola e equivocada busca por ancestrais em um linha do tempo retilínea (malditos historiadores!), podemos dizer que o RPG tem os seus nos Wargames, ou Jogos de Guerra, que seriam jogos de tabuleiro que buscam reproduzir e simular situações de guerra, combate entre exércitos. Forçando um pouco na generalização do conceito, eles podem ser encontrados em registros de mais de quatro mil anos atrás, na antiga Suméria. O Xadrez e o Go podem ser vistos como jogos advindos dos Wargames mais tradicionais. Na virada no século XIX é que os jogos de guerra aparecem na forma que os conhecemos atualmente, na região da Prússia - lá conhecido como Kriegspiel. É com a Guerra Franco-Prussiana (1870 - 1871) que esse tipo de jogo fica conhecido do lado de cá do tabuleiro de War, virando instrumento de treinamento tático do exército inglês. Foi Herbert George Wells (1866 - 1946), mais conhecido como HG Wells (um carinha interessante, pra quem lê inglês dá uma olhadela aqui), quem tirou o monopólio das mãos dos milicos e publicou, em 1915, o livro "Little Wars". Essa iniciativa não teve muito sucesso, mas foi o pontapé para o primeiro Wargame de tabuleiro ser lançado comercialmente, por Charles Roberts em 1953.
      Esses jogos de Guerra ganharam alguma popularidade e fizeram o seu nicho na sociedade de 1960/1970, em proporções semelhantes ao RPG na sociedade de hoje. O passo seguinte em direção ao RPG foram os livros de John Ronald Reuel Tolkien (1892 - 1973), nome hoje bem mais conhecido graças aos filmes dirigidos por Peter Jackson. Tolkien era um filólogo e estudioso em geral, muito interessado por folklore, e queria muito incluir uma de suas criações, os Hobbits, nas lendas populares, junto de elfos, gnomos e duendes. Seu primeiro livro (ao menos de literatura fantástiva, até onde sei), O Hobbit, conta a aventura de um ser dessa raça; devido ao sucesso, seus editores o pressionaram por mais. Assim nasceu "O Senhor dos Anéis", que originalmente era um único livro, mas por decisões editoriais ficou dividido em três. Devido ao sucesso de suas obras, os jovens que estavam jogando Wargames não queriam mais retratar apenas a Batalha de Waterloo ou a Batalha de Gettysburg, mas sim a Batalha do Abism de Helm. Com a mecânica de regras+tabuleiro+miniaturas e a popularização do mundo criado por Tolkien, a aparição do primeiro RPG parecia só uma questão de tempo. Pela aversão à tecnologia nutrida por Tolkien, seus cenários estavam mais próximos à Idade Média do que à Idade Contemporânea, e os Wargames que existiam à época não lidavam bem com essa temática, principalmente com elementos fantásticos como magia e dragões. É aí que entram em cena Ernest (Gary) Gygax e David Arneson.
      Um dos melhores Wargames no sentido de reproduzir uma batalha medieval era o Chaimail, produzido pela Tactical Studies Rules (empresa de Gary Gygax); uma versão posterior de Chainmail passou a incluir regras para gigantes, trolls, dragões e magias. Essa versão de Chainmail, tanto em termo de regras quanto em termo de estilos. A idéia de roleplay, de interpretação, contudo, aparece antes; Arneson atribui a primeira inserção de roleplay nas seções de Wargames a um outro jogador de seu grupo, David Wesely. Nas palavras de Arneson:



"Eu tenho que dar o crédito da idéia para outro jogador local, Dave Weseley. Ele foi o primeiro a colocar roleplaying... o primeiro jogo que me lembro é um jogo medieval, um período muito maçante nos jogos de guerra. Ele tinha um conjunto maçante de regras e após nosso segundo jogo, nós estávamos entediados. Para melhorar as coisas, Dave, que estava fazendo os ajustes e a arbitragem, deu a cada um de nós um pequeno objetivo pessoal na batalha."

      Ao arbitrar um Wargame Napoleônico para dois jogadores (os comandantes dos exércitos rivais), Wesely inseriu outros jogadores, fazendo os papéis de prefeito, reitor da universidade, banqueiros. Quando dois jogadores se desafiavam para um duelo, Wesely achou necessário improvisar regras para o encontro no local. Assim
Wesely contribuiu para o desenvolvimento dos RPGs, basicamente, ao introduzir papéis individuais a serem interpretados (e não apenas papéis coletivos de exércitos) e regras abertas, que permitiam aos jogadores executar qualquer ação, com o resultado determinado pelo árbitro.
      No começo dos anos 1970, as idéias de Arneson encontram a fantasia de Gygax; e em 1970 ou 1971 (Arneson não lembra exatamente), quando as pessoas chegaram para jogar uma clássica campanha Napoleônica, viram um castelo enorme em cima da mesa e o jogo foi todo de exploração da masmorra fria e úmida do castelo - assim nascia Blackmoor Dungeon Campaign (A Campanha da Masmorra de Blackmoor). Gygax adotou a idéia com a sua aventura-solo Greyhawk (que hoje é o nome do cenário-padrão de D&D). Nos anos que se seguiram os dois foram jogando e fazendo testes, com os cenários e com as regras, e isso eventualmente acabou levando ao surgimento do primeiro RPG vendido comercialmente, o Dungeons&Dragons (Masmorras e Dragões), mais conhecido como D&D.

      Esse é um rapido resumo de como surge o primeiro RPG vendido comercialmente do mundo; existem muitas coisas que descrevi rapidamente, detalhes importantes que deixei de fora, complicações e referências que preferí não explicitar. Mas o básico está aí, ao menos para incitar a curiosidade das pessoas mais interessadas e para informar melhor aquelas pessoas que preferem colocar os dados pra rolar!

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